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Rastros de Posia
Blog do Livro.
22 de jan. de 2012
CAPA
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CATALOGRAFIA
SOUSA, Marcélio Castelo Branco
Rastros de Poesia- 1ª edição - Imperatriz- MA
Edição do autor, 2010- 74 páginas
ISBN 978-85-910506-0-4
Assunto: Poesia Brasileira
© 2010 Marcélio Castelo Branco de Sousa
página 5
RASTROS DE SAUDADE
Esta saudade que vem de todo jeito
Obstrui meu impulso cardíaco
E feito a mão rude de um maníaco
Arranca meu coração do peito.
Esta saudade é uma erva que avança
Como uma grama seca e bruta
E se expande pela imensa gruta
Da aridez de minha lembrança.
Esta saudade anseia em minha boca
Com argumento sempre muito terno
E traz-me o vinho e o inverno
Numa transcendência muito louca.
Esta saudade é uma deusa vadia
Ou uma quimera que quase me devora
Mas é meu amor de ontem, agora
Numa garrafa de vinho quase vazia...
Esta saudade que me aflige os dias!!!
Com noites de armadilha e teia
É minha mente de artefatos cheia
E minhas mãos completamente vazias.
Página 20
LEMBRANÇAS DO NORTE
Ah! Cantos encantos da minha terra
Matos, mistérios. Zoam seus sons...
Machos e fêmeas marcham a serra
Cores vivas e seus vários tons.
A qualquer ruído estes vales ecoam
Feras bramem as matas tremem
Belos pássaros cantam e voam
E águas claras nos rios gemem.
Destes vales estranhos e medonhos
Ouve-se o eco sinistro cá de fora
Em verdes sons de tons tristonhos
Lendários de nativos, então, d’outrora.
A orquestra inspirada a todo instante
Afina em contornos pelo vento
A ave que gorjeia toda elegante
Sonora pelo bosque seu lamento.
Quando o canto do sabiá esvai
De sua garganta, num gorjeio choroso
Como d’amor lembrar, o sentimento d’ai
A saudade dum remoto bem virtuoso.
Oh! Quantas aves de belas plumagens
Que por estes açaizais fazem ninhos
Quantos bichos vagueiam nas pastagens
E trilham por carreiros e caminhos.
Quantos caboclos nos recantos povoados
Que matinam para a lida dias e dias
Em hortas plantações e roçados
E trabalham em virtude de regalias.
Tanta lenda dessa terra se assiste
Que velhos matreiros contam a toda gente
E a descendência nestes contos persiste
E faz de estória, fato conseqüente.
Festas de então (remotas) eu lembro
E chora cá no peito o meu lembrar
Dos ventos fortes que sopram em setembro
Das chuvas que, em março, cai no Pará.
Se cismar um dia desses, quero ir
E matar do coração queixas e vontades
Dos costumes típicos: do açaí,
Do tacacá, do carimbó... Oh! Que saudades...
Página 42
O OLHAR
Este olhar volumoso em minha mente
No teu olhar quanta melancolia
Como esquecer a pueril fantasia?
Deste olhar que me fita intermitente.
Neste olhar a mais terna poesia
Estes olhos virtuosos e tristonhos
Penetraram tão fundo nos meus sonhos...
Tampouco deveras me ver podia
Este olhar que arde em meu pensamento.
Teu olhar preocupado e com tristeza
Não ver que por mais que minha destreza
A paixão é em mim, agora, um sentimento:
Tão forte como nenhum d' outrora
E tão nociva ao meu olhar que chora.
21 de jan. de 2012
Página 32
O VALE SEM FIM
(1993)
Imenso é o campo
De ervas e restingas
Espaço sem canto
Sem lado, sem fim...
Belas são as flores
Que cobrem as gramíneas
Vastas, as cores
Indistintas, sem fim...
Perene é o rio
Que corta o vale
Triste, o frio
Do medo sem fim...
A fuga é traquina
Do bicho que esconde
Da ave rapina
Dos céus sem fim...
Eterno é o dia
Que vaga a saudade
A lembrança é vadia
A solidão, sem fim...
Branda é a brisa
Que chega do norte
Cega é a sorte
A morte, o fim.
Página 8
Página 62
TRAUMA
Este olhar, que me fita,
traiçoeiro,
Dessa fêmea de instinto perverso
É da poesia erótica o primeiro
Verso.
Este corpo que me lambuza de mel,
E acelera meu sangue de fúria,
Eleva-me ao paraíso dos céus
Da luxúria.
Esta mão que me arranha e afaga
E me leva a viver n’outro mundo,
Arranca meu espírito e me apaga
Um segundo.
Esta alma que infecta minha alma
Com um sentimento caótico e surdo
Confunde meu ego a este trauma
Absurdo.
Esta santa de corpo delicado
Jaz... Se mulher de corpo desnudo
É um engenho de fazer pecado
Amiúdo.
E seu invento de vida e de morte
Que se criou da traição e da
serpente
É um veículo de sentimento, forte
E inocente.
E eu, devoluto dessa engrenagem
Que calcula dos gametas, o
palpite
Sigo ébrio nesta louca viagem
Sem limites.
Se este ato pra Deus, impureza
Pro Diabo, talvez então, a saída
É um argumento fiel da natureza
Pra vida.
Página 62
EXTINÇÃO
Da penumbra cósmica surge uma fresta
No intercalar da noite que me assombra:
A Natureza que é minha própria sombra
Veio cobrar a vida que me empresta.
E como um hino irônico e obsceno
Zomba da minha condição de humano
Dizendo que a sapiência é um engano
E a razão é do homem um veneno.
Eis a arrogância que a humanidade exalta:
Ser de todas as castas a escolhida.
Ouço a sentença da própria Vida
Que a extinção não fará qualquer falta.
Meras conclusões me põem à prova:
A razão experimenta uma errada mente
Já a Vida espera desesperadamente
A possibilidade necessária de renova.
O que minha sombra revele por destreza
Por pretexto (sei lá porque ou qual)
Faz da minha estirpe o próprio Mal
Ou uma aberração da própria Natureza.
Mesmo com medo, meu por instinto,
Ou dolo da Natureza em seu xingamento
Compreendo justo o meu passamento:
A absoluta probabilidade de ser extinto.
Eu quis advogar-me, embora de graça,
Mas minha voz se fez de pura ausência
De chumbo era a minha consciência
Por pertencer a minha própria raça.
Vejo agora, que a sensação cosmopolita
Que o homem tem sobre qualquer raça
É uma cínica conspiração que só disfarça
A circunstância de uma raça parasita.
E como o arpoador que o alvo encerra
O Cosmos observa-me, e a toda gente,
Ansioso esperando atentamente
Cair o ultimo homo sobre a Terra.
Encaro-o com vergonhas ursídeas
Que me dispõe em um estado fraco
De ser um parente do astuto macaco
E não um membro da família das orquídeas.
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