21 de jan. de 2012

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TRAUMA


Este olhar, que me fita, traiçoeiro,
Dessa fêmea de instinto perverso
É da poesia erótica o primeiro
Verso.

Este corpo que me lambuza de mel,
E acelera meu sangue de fúria,
Eleva-me ao paraíso dos céus
Da luxúria.

Esta mão que me arranha e afaga
E me leva a viver n’outro mundo,
Arranca meu espírito e me apaga
Um segundo.

Esta alma que infecta minha alma
Com um sentimento caótico e surdo
Confunde meu ego a este trauma
Absurdo.

Esta santa de corpo delicado
Jaz... Se mulher de corpo desnudo
É um engenho de fazer pecado
Amiúdo.

E seu invento de vida e de morte
Que se criou da traição e da serpente
É um veículo de sentimento, forte
E inocente.

E eu, devoluto dessa engrenagem
Que calcula dos gametas, o palpite
Sigo ébrio nesta louca viagem
Sem limites.

Se este ato pra Deus, impureza
Pro Diabo, talvez então, a saída
É um argumento fiel da natureza
Pra vida.




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EXTINÇÃO

Da penumbra cósmica surge uma fresta
No intercalar da noite que me assombra:
A Natureza que é minha própria sombra
Veio cobrar a vida que me empresta.

E como um hino irônico e obsceno
Zomba da minha condição de humano
Dizendo que a sapiência é um engano
E a razão é do homem um veneno.

Eis a arrogância que a humanidade exalta:
Ser de todas as castas a escolhida.
Ouço a sentença da própria Vida
Que a extinção não fará qualquer falta.

Meras conclusões me põem à prova:
A razão experimenta uma errada mente
Já a Vida espera desesperadamente
A possibilidade necessária de renova.

O que minha sombra revele por destreza
Por pretexto (sei lá porque ou qual)
Faz da minha estirpe o próprio Mal
Ou uma aberração da própria Natureza.

Mesmo com medo, meu por instinto,
Ou dolo da Natureza em seu xingamento
Compreendo justo o meu passamento:
 A absoluta probabilidade de ser extinto.

Eu quis advogar-me, embora de graça,
Mas minha voz se fez de pura ausência
De chumbo era a minha consciência
Por pertencer a minha própria raça.

Vejo agora, que a sensação cosmopolita
Que o homem tem sobre qualquer raça
É uma cínica conspiração que só disfarça
A circunstância de uma raça parasita.

E como o arpoador que o alvo encerra
O Cosmos observa-me, e a toda gente,
Ansioso esperando atentamente
Cair o ultimo homo sobre a Terra.


Encaro-o com vergonhas ursídeas
Que me dispõe em um estado fraco
De ser um parente do astuto macaco
E não um membro da família das orquídeas.

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